Diálogo
- A religião é o diálogo que cada um mantém entre si
e o que dentro guardou do melhor que obteve do exterior.
Tem que ser um diálogo que procure conseguir.
- Conseguir o quê?
- Salvar-se.
- Salvar-se de quê?
- De nada... de tudo... salvar-SE.
- Hmmm... e onde é que entram os outros?
- Os outros? Bem, os outros entram em todo o lado.
Às vezes queremos salvar-nos deles
outras vezes queremos que nos salvem.
- É claro que nós nunca os queremos salvar a ELES?
- Há quem consiga.
- Quem consiga o quê?
- Salvar-se assim.
- Salvar-se a si salvando outros? Estás a falar de cristianismo, então?
- Talvez...
- Começaste por falar de religião. Pensei que fosse uma coisa mais generalista.
- Tu é que falaste de salvar os outros.
- Pois foi. A religião é mais individual.
- Mas não apenas. As cerimónias religiosas,
pelo menos tradicionalmente, eram comunitárias.
Mas isso é o que de exterior existe na religião e pode
ser absorvido de muitas formas. Mas depois a religião
só se concretiza no interior de cada um. A religião é reflexão com um intuito.
- E se for reflexão sem intuito?
- Isso são devaneios.
- Oh.
intervalo em que ambas as personagens se entretêm a olhar para fora da janela, uma delas brinca com o cabelo, enrolando-o na mão e a outra raspa uma pequena nódoa seca que ficou na mesa de pinho envernizada, depois, calmamente, quem disse "Oh." volta a falar
- Posso reflectir com o intuito de conseguir entrar num espectáculo sem pagar.
- Isso não é reflectir, é engendrar.
- Oh.
- Mas tens razão. Ainda não é bem isto.
ai-lóviuuuu
o que mais gosto nas pessoas, por ordem de prioridades:
1- dizerem o que pensam (o que pensam mesmo)
2- cordialidade (prazer na amizade)
3- facilidade na gargalhada
4- optimismo ferrenho
5- rapidez de pensamento (meia palavra basta)
6- uma semi-loucura (calculada)que origine um certo mistério
descobri isto graças às pessoas de quem gosto
que me mostraram o que é bom nelas.
1- dizerem o que pensam (o que pensam mesmo)
2- cordialidade (prazer na amizade)
3- facilidade na gargalhada
4- optimismo ferrenho
5- rapidez de pensamento (meia palavra basta)
6- uma semi-loucura (calculada)que origine um certo mistério
descobri isto graças às pessoas de quem gosto
que me mostraram o que é bom nelas.
Mar da Tranquilidade
Muitos dizem que a verdadeira felicidade
é a alegria tranquila, arrastada no tempo.
Sem excessos, erros, desvios ou demasiado entusiasmo.
Dizem que isso traz segurança, clareza de espírito e de emoções.
É verdade.
E sempre que tentamos algo mais,
percebemos (dolorosamente, que é a forma mais eficaz de apreensão)
que é -ah!- que é mesmo verdade.
ataque cardíaco
Só tenho um músculo forte, que é o do coração. Vive do ar que respiro e suga a força aos outros membros. Não estou a falar do coração emocional. Mas do coração carne, músculo, motor. Esse, puxa para si a força toda e bate muito rápido em certas alturas. Já achei que podia ir desta para melhor assim. Se é para ir, que seja numa batida de pássaro louco.
Não mando nele. Sempre quis mandar, mas não mando nele. Dispara nos momentos mais incríveis, (já vou conseguindo prever quais são), e deixa-me zonza, sem fome e sem força nas pernas. As ideias, porém, rapidíssimas, mal as sinto. A única frustração é ter que disfarçar. Ninguém consegue ver o que se passa. Às vezes reparam. Dizem-me para me acalmar. Se fosse possível... Rio-me para dentro, e penso: já passa, já passa.
chegada aqui
primeiras impressões da horta, 4 dias depois de chegar em 2008:
Há um mar muito grande aqui à frente de casa
À noite é preto e não se vê
Mas está lá
Da janela do quarto, antes de nos deitarmos
Costumo olhar para ele
Mete um bocadinho de medo
Mas não muito
Conseguimos ver as luzes do Pico
E isso demonstra distância mas também tranquiliza um pouco
O tempo é como calha
É mesmo como calha
A casa é húmida
Mas isso não se nota muito
Mas cheira um bocadinho a mofo
Ando a tratar de arejar as gavetas, que é o que fica com mais cheiro
As pessoas na rua olham para mim
Quando ando por aí grávida.
Têm um sotaque bonito
Mas nem toda a gente tem sotaque igual
Há qualquer semelhança com o Redondo em algumas pessoas
Por exemplo hoje no mercado
Queria comprar peixe
Só havia 2 tipos de peixe
Lá num sítio onde estavam 3 pessoas
Trouxe dois encarnados
Não dava para perceber o nome que estava escrito
Começava por um A
Mas quando perguntei como se chamava
O senhor disse qualquer coisa que começava por um B
Custaram 4.40eur
E ainda paguei 50 cêntimos pelo “conserto”
Uma mulher que lá estava disse que era bom para fritar
Mas eu tou a fazê-los no forno
Não consigo ver um peixe com olhos e cabeça
Dentro de uma frigideira
Também dá para grelhar disse o homem do peixe
Mas não temos grelha.
O Fanelo (gato) já me deixou dar-lhe umas festinhas
Mas é ele que vem ter comigo
Ainda não fui eu ter com ele
Hoje foi o primeiro dia com muito sol
Mas também foi o primeiro dia que choveu a sério
Só durante uns 10min
O candeeiro da rua acende e apaga à noite
É chato
Dá para dormir de janela aberta
E acho que deve fazer bem
Passam muitos carros e fazem um bocado de barulho
Mas também, quando experimentámos era sábado à noite.
Não faz frio
Faz fresquinho
É bom.
Às vezes a roupa estendida seca muito depressa
Outras vezes demora bué da tempo.
É como calha.
Quando isto está muito enevoado
É um bocado fora.
Sente-se mesmo assim
Uma coisa
Aborrecida...
Há um mar muito grande aqui à frente de casa
À noite é preto e não se vê
Mas está lá
Da janela do quarto, antes de nos deitarmos
Costumo olhar para ele
Mete um bocadinho de medo
Mas não muito
Conseguimos ver as luzes do Pico
E isso demonstra distância mas também tranquiliza um pouco
O tempo é como calha
É mesmo como calha
A casa é húmida
Mas isso não se nota muito
Mas cheira um bocadinho a mofo
Ando a tratar de arejar as gavetas, que é o que fica com mais cheiro
As pessoas na rua olham para mim
Quando ando por aí grávida.
Têm um sotaque bonito
Mas nem toda a gente tem sotaque igual
Há qualquer semelhança com o Redondo em algumas pessoas
Por exemplo hoje no mercado
Queria comprar peixe
Só havia 2 tipos de peixe
Lá num sítio onde estavam 3 pessoas
Trouxe dois encarnados
Não dava para perceber o nome que estava escrito
Começava por um A
Mas quando perguntei como se chamava
O senhor disse qualquer coisa que começava por um B
Custaram 4.40eur
E ainda paguei 50 cêntimos pelo “conserto”
Uma mulher que lá estava disse que era bom para fritar
Mas eu tou a fazê-los no forno
Não consigo ver um peixe com olhos e cabeça
Dentro de uma frigideira
Também dá para grelhar disse o homem do peixe
Mas não temos grelha.
O Fanelo (gato) já me deixou dar-lhe umas festinhas
Mas é ele que vem ter comigo
Ainda não fui eu ter com ele
Hoje foi o primeiro dia com muito sol
Mas também foi o primeiro dia que choveu a sério
Só durante uns 10min
O candeeiro da rua acende e apaga à noite
É chato
Dá para dormir de janela aberta
E acho que deve fazer bem
Passam muitos carros e fazem um bocado de barulho
Mas também, quando experimentámos era sábado à noite.
Não faz frio
Faz fresquinho
É bom.
Às vezes a roupa estendida seca muito depressa
Outras vezes demora bué da tempo.
É como calha.
Quando isto está muito enevoado
É um bocado fora.
Sente-se mesmo assim
Uma coisa
Aborrecida...
desgrudar
Quem me dera desfazer-me de algumas coisas que se me colam à pele. Uma delas é o medo de ficar velha antes de.
Antes de quê?
De qualquer coisa, gostaria de não ter medo de ficar velha antes de. Ponto.
Seguindo: outra delas é a tendência ou a tentação por coisas ou situações que racionalmente não concordo. Mas emocionalmente, oh, minha rica vidinha, emocionalmenteeeeee.... enfim.
Adiante.
Mais uma, a eterna propensão para avaliar os outros através das minhas medidas mesquinhas e o completo esquecimento e alheamento do verbo ajudar.
Tenho tanto que aprender e tanta chapada para apanhar.
Antes de quê?
De qualquer coisa, gostaria de não ter medo de ficar velha antes de. Ponto.
Seguindo: outra delas é a tendência ou a tentação por coisas ou situações que racionalmente não concordo. Mas emocionalmente, oh, minha rica vidinha, emocionalmenteeeeee.... enfim.
Adiante.
Mais uma, a eterna propensão para avaliar os outros através das minhas medidas mesquinhas e o completo esquecimento e alheamento do verbo ajudar.
Tenho tanto que aprender e tanta chapada para apanhar.
Planeamento Familiar
Há meses fui ao ginecologista e escrevi isto, é preciso explicar que uma mulher sente sempre qualquer coisa assim indefinida antes de ir ao ginecologista. Uma espécie de nervoso miudinho que antecede uma ordem de "relaxe, relaxe". Disfarcei a minha sensaçãozinha observando outras mulheres e escrevendo o que ia pensando.
27 de Agosto
Na sala de espera para uma consulta de planeamento familiar, sentam-se à minha frente duas moças. Uma de uma beleza simples e outra feia. São ambas do campo. A feia, além de ser feia, tem a tristeza estampada na cara.
A outra está bem mais aliviada. Quero imaginar que a feia vem fazer um aborto, tal é o desconsolo com que está sentada. As duas trocam palavras às vezes, e que pouco fazem alterar a inclinação dos cantos da boca da feia triste. Muito caídos, pobre rapariga. Custa imaginá-la nos braços de um rapaz em grandes folias. Tem olhos de São Bernardo.
Há uma má música que enche a sala e que disfarça o tempo terrível que faz em todo o arquípélago. Mas não há nenhum rádio nem colunas, o que é estranho. Será que vou ouvir o meu nome quando me chamarem?
Volto a olhar para as raparigas. O meu médico, de quem gosto muito porque não me chateou na minha gravidez, é o único a fazer IVG's nas ilhas aqui em volta. Percebo agora que a música vem do telemóvel da bonita simples. Não simpatizo com elas. E a simples, afinal, nem chega a ser bonita. É ligeiramente estrábica e faz demasiado as sobrancelhas.
Um amigo meu disse que um outro amigo meu era inócuo. Na verdade o que ele queria dizer era algo como insondável ou impenetrável. Isto a propósito de um assunto muito específico que não importa aqui. Mas fiquei a pensar naquilo. Se há coisa que esse tal não é, é inócuo.
O facto de elas virem juntas, assim, duas amigas, ou primas (não podem de forma alguma ser irmãs) reforça a minha teoria do aborto. A das sobrancelhas depiladas sugeriu que fossem buscar uma revista. Trouxeram a Maria e agora cochicham enquanto a lêm. Imagino que a ideia é pensarem em desgraças na mesma, mas que ao menos não são delas próprias.
Reparo agora que a das sobrancelhas tem mala e a feia não. Por isso estou enganada. Se calhar a das sobrancelhas veio só pedir a pílula, daquelas que se metem debaixo da pele e a outra é só infeliz por ser feia.
A enfermeira chama a Tatiana, levantam-se as duas, com a sorridente das sobrancelhas à frente e a outra macambúzia atrás. Nunca vi acompanhantes a ir à frente das pacientes (ou utentes, como agora se chama aos doentes, para não lhes chamar doentes, até porque esta nem estava doente). A minha sórdida teoria cai assim por terra e esta manhã teve ainda menos interesse do que eu julgava.
27 de Agosto
Na sala de espera para uma consulta de planeamento familiar, sentam-se à minha frente duas moças. Uma de uma beleza simples e outra feia. São ambas do campo. A feia, além de ser feia, tem a tristeza estampada na cara.
A outra está bem mais aliviada. Quero imaginar que a feia vem fazer um aborto, tal é o desconsolo com que está sentada. As duas trocam palavras às vezes, e que pouco fazem alterar a inclinação dos cantos da boca da feia triste. Muito caídos, pobre rapariga. Custa imaginá-la nos braços de um rapaz em grandes folias. Tem olhos de São Bernardo.
Há uma má música que enche a sala e que disfarça o tempo terrível que faz em todo o arquípélago. Mas não há nenhum rádio nem colunas, o que é estranho. Será que vou ouvir o meu nome quando me chamarem?
Volto a olhar para as raparigas. O meu médico, de quem gosto muito porque não me chateou na minha gravidez, é o único a fazer IVG's nas ilhas aqui em volta. Percebo agora que a música vem do telemóvel da bonita simples. Não simpatizo com elas. E a simples, afinal, nem chega a ser bonita. É ligeiramente estrábica e faz demasiado as sobrancelhas.
Um amigo meu disse que um outro amigo meu era inócuo. Na verdade o que ele queria dizer era algo como insondável ou impenetrável. Isto a propósito de um assunto muito específico que não importa aqui. Mas fiquei a pensar naquilo. Se há coisa que esse tal não é, é inócuo.
O facto de elas virem juntas, assim, duas amigas, ou primas (não podem de forma alguma ser irmãs) reforça a minha teoria do aborto. A das sobrancelhas depiladas sugeriu que fossem buscar uma revista. Trouxeram a Maria e agora cochicham enquanto a lêm. Imagino que a ideia é pensarem em desgraças na mesma, mas que ao menos não são delas próprias.
Reparo agora que a das sobrancelhas tem mala e a feia não. Por isso estou enganada. Se calhar a das sobrancelhas veio só pedir a pílula, daquelas que se metem debaixo da pele e a outra é só infeliz por ser feia.
A enfermeira chama a Tatiana, levantam-se as duas, com a sorridente das sobrancelhas à frente e a outra macambúzia atrás. Nunca vi acompanhantes a ir à frente das pacientes (ou utentes, como agora se chama aos doentes, para não lhes chamar doentes, até porque esta nem estava doente). A minha sórdida teoria cai assim por terra e esta manhã teve ainda menos interesse do que eu julgava.
de agora
Numa espécie de exercício privado, ia escrever um anúncio (jamais publicável) onde eu procurava a amiga que me falta aqui. Comecei a escrevê-lo, mas a certa altura percebi que estava inconscientemente a retratar uma querida amiga minha da qual sinto muito a falta. Apaguei tudo e deitei-me.
Se tenho uma amiga ideal longe, nunca poderei estar satisfeita. Também nunca estou satisfeita com nada. Mas decidi que vou tirar a carta. Ontem vi um bocado de um filme, chamado Julie e Julia em que duas mulheres frustradas se realizam a cozinhar e a comer. Aquilo deixou-me muito mal disposta e não acabei de ver o filme. Também não me vou realizar a tirar a carta, mas ao menos aprendo alguma coisa. Acho que já não aprendo nada há muito tempo. Tenho aprendido Tarot, signos e i ching, mas não com os melhores resultados, nem, claro, com muito método. Estou cada vez mais desmetódica. O que eu precisava de um bocadinho mais de disciplina! E bem que tento.
Descobri há dias que uma pessoa (não importa agora quem) estudou numa escola que conheci por acaso e sempre abominei. Isto não teria interesse nenhum se eu não fosse uma pessoa completamente esquisita e não registasse na memória coisas estranhas e aparentemente sem sentido.
Ando a ler contos da Florbela Espanca em edição de bolso. Gosta-se mais dela do que daquilo que escreve, mas tem coisas giras. Uma foi ter-me feito procurar e encontrar (por acaso), o livro de pensamentos do Marco Aurélio, onde encontrei a seguinte maravilha: "Tu não és mais do que uma alma pequenina portadora de um cadáver" (Epicteto)
Depois disto já nem devia dizer mais nada, a não ser que este meu cadáver que ando a arrastar escada acima e escada abaixo e esta minha alminha tamanho mini andam muito sintonizados um no outro e principalmente em algo exterior. Será por causa do Verão? Não, porque esse ainda não começou, e raramente ameaça começar.
Se não fosse eu ser mulher, eu era a mesma coisa só que em gajo, e provavelmente só teria que tomar banho mais vezes.
des-censurados
E dei por mim com vontade de inverter o pensamento
intocável: aquele que põe a ditadura no lugar que ela merece, que é do lado dos maus.
A censura é o argumento sem contra-argumentos que nos permite condenar toda e qualquer ditadura sem remorsos.
Treinada como me esforço por ser para encontrar iguais níveis de mal e de bem em todas as acções, conceitos, ideias e vontades, inverti mentalmente a equação, só para ver no que dava.
Não muito surpreendentemente, agradou-me. Podia ser mesmo A solução.
Censura. Se os meios de comunicação forem censurados (mas tem que ser forte e feio), conversaremos mais, deixaremos espaço para uma coisa magnífica que tem vindo a perder a sua força e que sempre assustou o poder: o boato.
Comunicaríamos num só canal: o da convivência. Poderíamos unir-nos numa só vontade, sem nos dividirmos em interesses diferentes, canais de música, de cinema, de moda, de séries antigas, revistas de motas, de relógios. Estaríamos mais atentos, seríamos ávidos de informação e seríamos obrigados a reflectir sobre ela.
Há muita publicação, muitas ideias, muita liberdade por aí. E esta é só mais uma delas. Por isso peço desculpa...
plim.
intocável: aquele que põe a ditadura no lugar que ela merece, que é do lado dos maus.
A censura é o argumento sem contra-argumentos que nos permite condenar toda e qualquer ditadura sem remorsos.
Treinada como me esforço por ser para encontrar iguais níveis de mal e de bem em todas as acções, conceitos, ideias e vontades, inverti mentalmente a equação, só para ver no que dava.
Não muito surpreendentemente, agradou-me. Podia ser mesmo A solução.
Censura. Se os meios de comunicação forem censurados (mas tem que ser forte e feio), conversaremos mais, deixaremos espaço para uma coisa magnífica que tem vindo a perder a sua força e que sempre assustou o poder: o boato.
Comunicaríamos num só canal: o da convivência. Poderíamos unir-nos numa só vontade, sem nos dividirmos em interesses diferentes, canais de música, de cinema, de moda, de séries antigas, revistas de motas, de relógios. Estaríamos mais atentos, seríamos ávidos de informação e seríamos obrigados a reflectir sobre ela.
Há muita publicação, muitas ideias, muita liberdade por aí. E esta é só mais uma delas. Por isso peço desculpa...
plim.
A dor
A dor física
Nada tão intolerável como a dor física.
Nada tão intransponível,
é a barreira que nos impede de deixar de ser gente
só gente.
A dor física é uma forma de o mundo
nos mostrar como é grande.
Como os tiranos arrancam pernas aos condenados.
a propósito de uma dor de dentes, 28 de abril de 2003
Nada tão intolerável como a dor física.
Nada tão intransponível,
é a barreira que nos impede de deixar de ser gente
só gente.
A dor física é uma forma de o mundo
nos mostrar como é grande.
Como os tiranos arrancam pernas aos condenados.
a propósito de uma dor de dentes, 28 de abril de 2003
2 estrelas da música portuguesa, 2 raparigas diferentes, 2 histórias semelhantes
Cp. 1 - Tudo o que você queria ouvir
Já tive uma paixão pelo Rui Reininho.
E nem sequer faz o meu género. Mas algo me levou a isso.
Sei que na altura não tinha dinheiro para quase nada, e esse CD dos GNR foi talvez o 2º CD que comprei, a seguir ao "Post" da Bjork. 5 contos na carteira, em Lisboa. CD duplo, e dos GNR, grupo português favorito de um rapaz mais velho por quem eu sentia admiração.
Cp. 2 - O meu Reininho por um Beijinho
Eu tinha as letras já quase todas decoradas quando os GNR foram cabeças de cartaz das festas da minha terra (no Verão do mesmo ano). Não percebia nada do que queria dizer aquilo. Ia percebendo, aos poucos, à medida que a minha ousadia ia permitindo. Ainda hoje se acabo de ouvir uma das músicas, os primeiros acordes da seguinte ressoam na minha memória.
Assumidamente tola, ingénua e parva, esperei pelo RR, à tarde, no teste de som, para lhe cravar uma assinatura no booklet. E aí ainda não era por paixão. Era pró-forma. Lá fui, assim com vergonha, mesmo à parvónia. Consciente do ridículo da situação mas decidida.Tinha 13 anos.
Ele sorriu, numa atitude que não entendi. E, o que me baralhou por completo: o Rui Reininho disse que assinava mas só se eu lhe desse um beijinho. Vocês se calhar não estão a ver mas isto para mim não fazia sentido nenhum. Ele é que era o máximo, eu é que lhe devia pedir um beijinho, porque isso teria valor era para mim, não para ele. Dei, claro, mas já com uma pontinha de culpa. Estava a dar algo de mim, que, por ter sido ele a pedir (e como pagamento) eu provavelmente deveria era ter guardado. É o princípio da sensualidade, coisa que eu não estava à espera quando fui lá pedir o autógrafo. Eu ia por infantilidade.
Depois disso e da camisa vermelha que ele usava no concerto e que se lhe colou ao corpo, encharcada, era um bocado difícil não pensar mais no cavalheiro. Com os anos, o puzzle das letras completou-se, percebi que o erotismo é a fibra do Reininho, e isso é que lhe dá voz e génio. Mas confesso que ainda hoje se ouço Hardcore, uma canção que só por ser em inglês é que não é a coisa mais porno da música portuguesa, dizia eu que quando ouço essa música ainda sinto um torvelinho de sensações: escândalo, desprezo, espanto, curiosidade. Mas ao mesmo tempo uma compreensão triste, só e decadente, uma volúpia estranha.
(A.R)
---------------------------------------------------------------------------
Cp.1 - Cabeça rachada, óculos escuros vermelhos, gata das botas alcoolizada com capa de drácula
Foi assim que me apresentei para uma Festa Funeral Party na discoteca Metropolis. O meu chapéu tinha uma pluma amarela enorme que se enfiava nos olhos das pessoas que se chegavam junto a mim. Surgiu uma senhora gótica com um candelabro, fazia parte de um semi-show-erótico, disse-me com um sorriso para ter cuidado com a minha pluma não fosse ela queimar nas velas. Tive cuidado. Tenho tendência a acidentes e já me bastava ter um penso na cabeça - de a ter rachado há umas semanas atrás.
O show lá continuou e olhei fingindo interesse na dança sensual da rapariga. chegaram uns amigos meus e ao darem-me lume, queimaram-me acidentalmente os bigodes da minha mascarilha de gata. Uma amiga minha riu-se. Quiseram saber do que estava mascarada.Gata das botas, respondi, já muito bêbada. Para mim era óbvio mas quando me perguntaram onde é que estavam as botas disse que eram ténis-bota. A noite decorreu como muitas outras. Toda a gente se torna amiga nessas noites. Toda.
Cp.2 - Coração de Atum
No final da noite, as luzes acesas, o chão pegajoso de cerveja e outras coisas que tais. Copos de plástico no chão e em cima dos pilares. Beatas espalhadas por todo o lado. Havia fila para pagar e os habituees sentaram-se nos sofás à conversa. Deixei-me ficar nos sofás como de costume a falar com alguém que já não me recordo bem. Foi então que me disseram eish olha quem é que está ali. E lá olhei. Era ele em todo o seu esplendor, a pança bem assente no balcão e um copo de whiskey na mão.
Desafiaram-me a ir ter com ele para lhe dizer olá. Lá fui, dei-lhe um passóbem e tratei-o por Excelentíssimo Presidente Vieira e ele...ele disse "olha, uma gata" e lambeu-me a cara. Perguntou se eu gostava de atum, naturalmente disse-lhe que sim. Conseguia estar mais bêbado que eu. Limpei automaticamente a bochecha que estava toda lambida. Voltei a sentar-me, uma rapariga perguntou-me como é que tinha corrido, eu respondi-lhe "és muita linda".
(C.M)
Já tive uma paixão pelo Rui Reininho.
E nem sequer faz o meu género. Mas algo me levou a isso.
Sei que na altura não tinha dinheiro para quase nada, e esse CD dos GNR foi talvez o 2º CD que comprei, a seguir ao "Post" da Bjork. 5 contos na carteira, em Lisboa. CD duplo, e dos GNR, grupo português favorito de um rapaz mais velho por quem eu sentia admiração.
Cp. 2 - O meu Reininho por um Beijinho
Eu tinha as letras já quase todas decoradas quando os GNR foram cabeças de cartaz das festas da minha terra (no Verão do mesmo ano). Não percebia nada do que queria dizer aquilo. Ia percebendo, aos poucos, à medida que a minha ousadia ia permitindo. Ainda hoje se acabo de ouvir uma das músicas, os primeiros acordes da seguinte ressoam na minha memória.
Assumidamente tola, ingénua e parva, esperei pelo RR, à tarde, no teste de som, para lhe cravar uma assinatura no booklet. E aí ainda não era por paixão. Era pró-forma. Lá fui, assim com vergonha, mesmo à parvónia. Consciente do ridículo da situação mas decidida.Tinha 13 anos.
Ele sorriu, numa atitude que não entendi. E, o que me baralhou por completo: o Rui Reininho disse que assinava mas só se eu lhe desse um beijinho. Vocês se calhar não estão a ver mas isto para mim não fazia sentido nenhum. Ele é que era o máximo, eu é que lhe devia pedir um beijinho, porque isso teria valor era para mim, não para ele. Dei, claro, mas já com uma pontinha de culpa. Estava a dar algo de mim, que, por ter sido ele a pedir (e como pagamento) eu provavelmente deveria era ter guardado. É o princípio da sensualidade, coisa que eu não estava à espera quando fui lá pedir o autógrafo. Eu ia por infantilidade.
Depois disso e da camisa vermelha que ele usava no concerto e que se lhe colou ao corpo, encharcada, era um bocado difícil não pensar mais no cavalheiro. Com os anos, o puzzle das letras completou-se, percebi que o erotismo é a fibra do Reininho, e isso é que lhe dá voz e génio. Mas confesso que ainda hoje se ouço Hardcore, uma canção que só por ser em inglês é que não é a coisa mais porno da música portuguesa, dizia eu que quando ouço essa música ainda sinto um torvelinho de sensações: escândalo, desprezo, espanto, curiosidade. Mas ao mesmo tempo uma compreensão triste, só e decadente, uma volúpia estranha.
(A.R)
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Cp.1 - Cabeça rachada, óculos escuros vermelhos, gata das botas alcoolizada com capa de drácula
Foi assim que me apresentei para uma Festa Funeral Party na discoteca Metropolis. O meu chapéu tinha uma pluma amarela enorme que se enfiava nos olhos das pessoas que se chegavam junto a mim. Surgiu uma senhora gótica com um candelabro, fazia parte de um semi-show-erótico, disse-me com um sorriso para ter cuidado com a minha pluma não fosse ela queimar nas velas. Tive cuidado. Tenho tendência a acidentes e já me bastava ter um penso na cabeça - de a ter rachado há umas semanas atrás.
O show lá continuou e olhei fingindo interesse na dança sensual da rapariga. chegaram uns amigos meus e ao darem-me lume, queimaram-me acidentalmente os bigodes da minha mascarilha de gata. Uma amiga minha riu-se. Quiseram saber do que estava mascarada.Gata das botas, respondi, já muito bêbada. Para mim era óbvio mas quando me perguntaram onde é que estavam as botas disse que eram ténis-bota. A noite decorreu como muitas outras. Toda a gente se torna amiga nessas noites. Toda.
Cp.2 - Coração de Atum
No final da noite, as luzes acesas, o chão pegajoso de cerveja e outras coisas que tais. Copos de plástico no chão e em cima dos pilares. Beatas espalhadas por todo o lado. Havia fila para pagar e os habituees sentaram-se nos sofás à conversa. Deixei-me ficar nos sofás como de costume a falar com alguém que já não me recordo bem. Foi então que me disseram eish olha quem é que está ali. E lá olhei. Era ele em todo o seu esplendor, a pança bem assente no balcão e um copo de whiskey na mão.
Desafiaram-me a ir ter com ele para lhe dizer olá. Lá fui, dei-lhe um passóbem e tratei-o por Excelentíssimo Presidente Vieira e ele...ele disse "olha, uma gata" e lambeu-me a cara. Perguntou se eu gostava de atum, naturalmente disse-lhe que sim. Conseguia estar mais bêbado que eu. Limpei automaticamente a bochecha que estava toda lambida. Voltei a sentar-me, uma rapariga perguntou-me como é que tinha corrido, eu respondi-lhe "és muita linda".
(C.M)
pineapple dress
Telefonou-me. Se eu não era a sua mãe adoptiva.
"Sim, somos nós, os teus pais adoptivos".
Então, perguntava ele, porque é que ainda não o tínhamos ido buscar?
"Não sabia que era preciso trazer-vos para casa!"
Tínhamos também adoptado outra miúda, de 16 anos. Essa, como não exigiu nada, ficou lá.
Mas o miúdo franzino não deixou escapar a sua oportunidade e quis, aos 12 anos, vir para nossa casa, onde vivemos com o nosso filho Julião, de dois anos e meio.
Fui buscá-lo. Era bonito. Usava um colete preto e dourado, curto, que se apertava à frente com uns botõezinhos pequenos numas casas feitas de tira de pano que saíam da aba do colete. Esta forma de abotoar deixava uma faixa aberta que descobria assim a pele clara desde o esterno até à barriga.
Gostei dele, estava a esforçar-se por me agradar e saía-se bem, não se notavam muito aqueles truques de rufia que as crianças que crescem naqueles sítios aprendem e que este decerto também deve ter aprendido. Trouxe-o comigo e viémos a pé, pela rua. Puxei-o para mim e abracei-o, para que ele me sentisse mais sua mãe. Apalpou-me uma mama e chamou-me mamã. Espantosamente não foi um gesto ofensivo. Achei que era genuíno e terno. Até porque não faria sentido para ele estragar assim a pintura que se esforçava por fazer de si próprio. Nesse instante perfilhei-o no meu íntimo e decidi que no próprio dia haveria de lhe ir comprar muitas roupas. É que aquele colete, que lhe ficava lindamente, adequava-se bem a um órfão mas não a um filho meu.
Adorou a nossa casa, enorme, antiga: uma mansão. Percorreu os salões de baile vazios, o soalho levantado e podre aos cantos. Mexeu nos reposteiros pesados dos janelões. Mas ficou maravilhado foi com o quarto de brinquedos do Julião, cheio de prateleiras e prateleiras de brinquedos para crianças de dois anos e meio. Via-se que apesar da infantilidade dos jogos, ele estava ávido por ficar ali, a recuperar aquilo que tinha perdido em pequeno. Deixei-o a brincar.
Num dos outros salões estava o russo, a quem pertence a nossa casa. Folheava uma revista. A contracapa era uma fotografia do clube de futebol feminino dos meus tempos de escola primária. Pedi-lhe para ver melhor. Versões infantis dos rostos das minhas amigas vestidas com fatos de treino fora de moda. E de repente do lado esquerdo das desportistas, com a minha carinha bonita de menina de sete anos, estava eu. Com o cabelo penteado, um vestido cintado de saia rodada. Era a mais pequena de todas. Mostrei a fotografia ao russo e às suas jovens amigas que entretanto chegaram. "Olhem, esta não sou eu aqui no canto?" Olhares de incredulidade e de indiferença. Como é que eu podia ter sido assim, tão mimosa e delicada?
Vemos o vídeo da cena, com a mesma facilidade que o faríamos se a foto fosse um ícone do youtube onde carregamos para a imagem se animar. E ah, maravilha, era mesmo eu! A dançar alegre no meu vestido colorido, aquele que tinha um padrão de ananases estampados. Que graça. Era definitivamente eu, até reconheço aqueles passinhos de dança... Mas mais ninguém quis saber. Deixei a revista nas ervas grandes do pátio e fui a pé para o porto.
No iate do russo, encontrei-o sentado num sofá de napa branca perfurada. Vestia um kispo azul e branco com capuz. Queria que eu o fotografasse de forma a que parecesse um magnata russo. Ele era um magnata russo. Através da janela vi passar lá fora, uma amiga minha de longa data. Estava sol e o céu e o mar muito azuis. Explico-lhe a ele que os pais dessa minha amiga se conheceram na rússia. Isso entusiasmou-o. Tudo o que tinha a ver com o seu país o contentava.
Disse-lhe então para pôr o capuz. Ficava-lhe bem, em redor da sua cabeça de velho barbudo. Mas sendo o kispo azul e branco e a parte frontal do capuz ter uma cruz de cristo vermelha (daquelas das caravelas), achei que a coisa dava mais ar de lobo do mar francês (!) do que de magnata russo. Como se recusou a que lhe tirasse uma foto com as abas do capuz reviradas - um truque que tapava a cruz mas mostrava o pêlo falso do forro - abandonei o iate.
Trazia ainda no peito a preocupação da outra miúda, a de 16 anos. A sério que quando tínhamos decidido adoptar os miúdos, não sabíamos que era para os trazer para casa.
Observei-a. Tinha um perfil altivo, monárquico, inteligente. Não me ligou nenhuma, ia para a praia com os amigos, malta do golfe e do ténis. Muito bem vestida.
"Até ficava com ela", pensei eu, "mas deve estar quase a entrar para a universidade e isso vai trazer-nos uma despesa enorme." E tinha aliás todo o ar de quem não precisava de nós para nada. Mergulhou no mar. Eu e o Tomás vimos como se movia dentro de água. Era uma excelente nadadora. Tinha os cabelos muito compridos, como os das sereias.
Sabia que tinha o dever de a trazer, porque a tínhamos adoptado, mas também sabia que não tínhamos meios para ter ainda mais esta filha. De qualquer forma ela não estava interessada em nós. O Tomás reparou, e com razão, que ela tinha extensões no cabelo. Não entendo como podem haver miúdas assim nos orfanatos. Rezámos para que se tivessem esquecido que a tínhamos adoptado.
Voltámos os dois para casa, onde encontrámos a porta do congelador aberta, a do frigorífico mal fechada e as gavetas remexidas. Nada tinha sido roubado - nem havia nada para roubar - mas o gelo tinha derretido e o frango estava descongelado.
Que trabalheira íamos ter para educar aquele novo filho já grande juntamente com o nosso velho pequenino... não podia suportar esta angústia. Foi com extremo alívio - agradeci aos céus - por ter acordado do sonho numa manhã clara onde nos vi com um único filho vivo e real, todo nosso desde a sua concepção.
bater certo
Gostava de dominar a ornitologia, saber o nome dos pássaros, reconhecê-los pelas cores, pelas formas, pelo falar.
Gostava, além disso, de ter aquela calma de chá, de fazer a minha cama fresca e limpa todas as manhãs. De ter os cadernos organizados, a loiça sempre lavada, perceber muito de matemática e ser fluente noutras línguas.
Gostava também de ter visitado Maputo, Teerão e Cardiff e de ter sabido escolher coisas bonitas dessas cidades para ter em casa.
Gostava que aquilo que pensasse, que escrevesse, se coadunasse com o meu aspecto, as minhas roupas e com o meu modo de vida. Olhavam para mim, os outros, e percebiam-me. Pensavam: "esta rapariga é assim e assim", e eu era isso mesmo.
Gostava de conseguir fazer o que quero, por exemplo o pino, e não ter que me sujeitar a coisas que não sendo graves, acabam por me aborrecer na sua constante presença: medo físico de cair, obrigatoriedade de usar óculos e outras coisas igualmente exasperantes.
Gostava ainda de acordar cedo todas as manhãs e fazer coisas que me dão sempre prazer, passear, desenhar, escrever... Gostava de não passar tanto tempo na internet, muitas das vezes num marasmo cibernético.
Gostava de tomar sempre banho de água fria, sei que me faria bem, e é tão bom quando o faço. Gostava de deixar as pessoas em paz e não as chatear com problemas que só existem por causa das minhas inseguranças.
Gostava tanto dessa paz e boa vida interior e exterior que imagino.
Mas não sou capaz de a alcançar.
Desconfio até que nunca serei.
Tenho porém a esperança que a menopausa me venha a ajudar um dia.
No entretanto vivo assim, com um pouco de inveja das raparigas que são aquilo que parecem. É que, mesmo que não sejam grande coisa (que isso realmente nunca são) têm o admirável dom de bater certo...
There is not such noble thing as to be a servant.
Like a non-obliged nor paid person
That wakes up in the morning, sooner than the rest
And starts the machine that sustains everyday life.
They're the greatest.
But lazy as I am, I cannot think about a greatest reward for them
as a peacefull and rested after-life.
I really admire them
But I'll never be such a heroine.
And I don't want to.
Like a non-obliged nor paid person
That wakes up in the morning, sooner than the rest
And starts the machine that sustains everyday life.
They're the greatest.
But lazy as I am, I cannot think about a greatest reward for them
as a peacefull and rested after-life.
I really admire them
But I'll never be such a heroine.
And I don't want to.
Quem se dá a si próprio liberdade,
tem tudo.
É preciso estar atento e ter o faro fresco
para prever de onde vêm as cadeiazinhas
Que se nos vão atando aqui e ali. Será que são feitas de cabelos?
Já não chove há tanto tempo e eu não devia ter saudades...
Liberdade total são dias e dias sem chuva... o que não dá fruto que se coma.
tem tudo.
É preciso estar atento e ter o faro fresco
para prever de onde vêm as cadeiazinhas
Que se nos vão atando aqui e ali. Será que são feitas de cabelos?
Já não chove há tanto tempo e eu não devia ter saudades...
Liberdade total são dias e dias sem chuva... o que não dá fruto que se coma.
originaly there was classicism
originality lost it's sense.
it's a meaningless concept.
creativity isn't just a question of make a difference.
it's a question of knowing
what now should come next.
the true originality must be somewhat classical, simple, but with an almost obvious new ingredient.
not too obvious, not too new, not too classical.
it must be light, easy, ready.
And must of all: yours.
Superfluous Superiority
the old aged people
The Dig
How can I trust myself
when
I find for other people and other memories
that I don't remember anything about
a lot of important moments I lived and laughed?
What kind of selection is this that works in my memory?
Well I prefer not to care
and not to dare
to be certain about what I think to be my personality...
.
.
.
.
.
.
.
such a feeling of liberty!
people are so proud
of their edifications,
evolutions
explorations.
they see themselves as kings and queens
of the planet
the solar system
and
who knows
the all entire universe
but many of them
would quickly
change their home keys
their nice clothes
and the preferred books
for an afternoon as a merry flying bird
of their edifications,
evolutions
explorations.
they see themselves as kings and queens
of the planet
the solar system
and
who knows
the all entire universe
but many of them
would quickly
change their home keys
their nice clothes
and the preferred books
for an afternoon as a merry flying bird
an idea!
"The Prodigal Son in Modern Life: The Return (1882)"
Guitar
Johnny: How many men have you forgotten?
Vienna: As many women as you've remembered.
Johnny: Don't go away.
Vienna: I haven't moved.
Johnny: Tell me something nice.
Vienna: Sure, what do you want to hear?
Johnny: Lie to me. Tell me all these years you've waited. Tell me.
Vienna: [without feeling] All those years I've waited.
Johnny: Tell me you'd a-died if I hadn't come back.
Vienna: [without feeling] I woulda died if you hadn't come back.
Johnny: Tell me you still love me like I love you.
Vienna: [without feeling] I still love you like you love me.
Johnny: [bitterly] Thanks. Thanks a lot
please, do not tend to seriousity
kid-ding
The renaissentist voyeurism
the peculiarity of the left hand
we should try to use it more often
and become pleasantly astonished by the surprises
that she is able to show up.
my top of the blog's left hand is left hand made
yoga lesson: listen to your whole body!
and become pleasantly astonished by the surprises
that she is able to show up.
my top of the blog's left hand is left hand made
yoga lesson: listen to your whole body!
quite serious
Just as Engels stated,“Just like the concept of number, the concept of form is obtained entirely from the outer world and is not generated out of pure thought in the mind. First, there must exist objects in definite forms and, after comparing these forms, the concept of form can be established. The subjects of pure mathematics are the space form and quantity relations of the actual world, and are therefore the very actual materials. ----But, to study these forms and relations in pure conditions, they must be separated from their own contents, which are to be put aside as things of no importance. By this, we can obtain points with no length, width and height and lines with no thickness and breadth, a and b, x and y, i.e., constant and variable. (Refer to [6]. Page 77)” Therefore, to say that space contains “geometric nature”----either flat or twisted----is to put individuality (peculiarity) into universality, i.e., universality is mistaken peculiarity.
(http://forrootbasic.51.net/wytk/xtwzh/xiahengguang/xhg-english/sogstreaer/sogstreaer.htm)
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